Em outros tempos, o Rei Salomão, poderoso soberano e profeta, sentia prazer em se deslocar ao coração de seu reino. Nunca falhava em ir saudar a cada dia os seus súditos. TODOS seus súditos… Não importa quão pequenos fossem, quantos animais que fossem. Porque o Rei não fazia distinção entre os seres humanos e os seres provenientes do mundo animal, vegetal ou mineral. Além disso, o monarca dispunha de poderes de telepatia e podia facilmente conversar com qualquer ser como queria. Ele era muito respeitado e admirado por isto. E sua reputação se extendia para muito mais além de seu reino. Ela chegava até mesmo ao deserto.
Agora bem, um dia… Um dia em que justamente visitava a uma tribo de formigas no deserto, teve a surpresa de descobrir que um trabalhador não quis ir até o rei para saudá-lo como se deve. Salomão conhecia perfeitamente bem esta tribo e notou bem a ausência da formiga. Eu devo acrescentar que ele não era um rei convencido de sua superioridade, nem tinha exigências desmedidas. No entanto, vir saudar lhe parecia uma bonita cortesia. Mas isso era tudo. Ele tampouco exigia demonstrações ou reverências intermináveis. Por isso, sinceramente inquieto pela jovem formiga ausente que ele imaginava estar doente, ele perguntou à rainha da colônia sobre seu estado de saúde.
« Ela não está doente, lhe explicou a rainha, ela está…ocupada com um projeto de… grande envergadura… que lhe consome TODO seu tempo e sua energia ».
« Tu me intrigas » lhe disse Salomão, « que estaria ela fazendo? »
Enquanto se perguntava seguiu as pegadas da criatura… que não levou muito tempo em encontrar embaixo de uma duna.
« Oi », lhe disse o rei.
« Saudo ao senhor, ó Rei Salomão », disse a formiga enquanto empurrava um grão de areia.
« Que está fazendo? » perguntou Salomão.
« Estou deslocando esta duna » respondeu com segurança a formiga.
« Tu… estás deslocando a duna? » repetiu Salomão muito surpreso, « Tu estás louca minha jovem amiga, jamais conseguirás atingir essa meta! Viste teu tamanho? Viste o tamanho da duna? Tu vai se esgotar até chegar a tua morte!»
« Eu sei… lhe respondeu a formiga, eu sei. Mas o que sei igualmente é que esta força que me impulsiona é muito poderosa e muito maior que esta duna aqui, ou melhor que todas as dunas de todos os desertos juntos. Esta força, da que lhe falo, é o Amor. Porque, veja Salomão, do outro lado desta montanha de areia se encontra meu amado. Se a força de empurrar estes grãos de areia me matar, esgotada, eu prefiro mil vezes esse destino fatal antes de sentar-me aqui e abandonar esse Amor. Ao menos se caio nas trevas eternas esgotada pela tarefa, ao menos morrerei com a loucura dessa coisa que se apaga por último no coração dos seres: a esperança. »
Salomão deixou ressoar em sua mente por muito tempo as palavras da jovem formiga apaixonada. Foi naquele dia que compreendeu o sentido autêntico e verdadeiro do Amor.
MirellaGross
