sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Quem tem medo de dizer não?

A gente vive aprendendo
A ser bonzinho, legal,
A dizer que sim pra tudo,
A ser sempre cordial...

A concordar, a ceder,
A não causar confusão,
A ser vaca-de-presépio
Que não sabe dizer não!

Acontece todo dia,
Pois eu mesma não escapo.
De tanto ser boazinha,
Tô sempre engolindo sapo...

Como coisas que não gosto,
Faço coisas que não quero...
Deste jeito, minha gente,
Qualquer dia eu desespero...

Já comi pamonha e angu,
Comi até dobradinha...
Comi mingau de sagu
Na casa de uma vizinha...

Comi fígado e espinafre,
De medo de dizer não.
Qualquer dia, sem querer,
Vou ter de comer sabão!

Eu não sei me recusar,
Quando me pedem um favor.
Eu sei que não vou dar conta,
Mas dizer não é um horror!

E no fim não faço nada
E perco toda razão.
Fico mal com todo mundo,
Só consigo amolação.

Quando eu estudo a lição
E o companheiro não estuda,
Na hora da prova pede
Que eu dê a ele uma ajuda

Embora ache desaforo,
Eu não consigo negar...
Meu Deus, como sou boazinha...
Vivo só para ajudar...

Se alguém me pede que empreste
O disco do meu agrado,
Sabendo que não devolvem
Ou que devolvem riscado...

Sou incapaz de negar,
Mas fico muito infeliz...
Qualquer um, se tiver jeito,
Me leva pelo nariz...

Depois que eu estou na fila
Pra pagar o supermercado,
Já estou lá há muito tempo...
Aparece um engraçado...

Seja jovem, seja velho,
Se mete na minha frente,
Mas eu nunca digo nada...
Embora eu fique doente!

A gente sempre demora
A entender esta questão.
Às vezes custa um bocado
Dizer simplesmente não!

Mas depois que você disse
Você fica aliviada
E o outro que lhe pediu
É que fica atrapalhado...

Mas não vamos esquecer
Que existe o "por outro lado"...
Tudo tem direito e avesso,
Que é meio desencontrado...

Quero saber dizer NÃO.
Acho que é bom para mim.
Mas não quero ser do contra...
Também quero dizer SIM!

 Poema de Ruth Rocha, ilustrado por Ivan Zigg

Maior que o meu? Não haverá !

Ame com todas suas forças, mesmo que a pessoa não te ame. Faça a sua parte. Um dia ela perceberá que não haverá amor tão maior que o seu.






Dalí

Era uma vez
Um sonho de menino.
Estranho,
Versátil,
Admirável.

De repente, o tempo não existia mais.
Tinha parado,
Congelado,
Suspendido.

O relógio começou a escorregar por entre as suas mãos
E o tempo foi derretendo.

O menino então falou comigo:
"Eu penso, eu digo e falo
O que vem na mente.
E você sente".

Juntos, escrevemos automaticamente
Tudo o que vem à cabeça
Sem censura
Nem suspiro.
A gente se entende.

As imagens que surgem do texto são bonitas.
Surgem Dalí e daqui.
Têm sol, têm mar, têm casas e árvores
E têm gente estranha.

As cenas são improváveis
E o ritmo é de um sincopado que não existe,
Nem nas mais exóticas músicas que ouvimos.
Apenas sonho de meninos?

Se eu fosse um artista
Surrealista
Eu também sonharia assim.
Perguntaria teu nome
E no meio da fome
Pediria pra você ficar e pintar comigo.

Eu iria me nutrir da tua mão de chocolate
E da tua pele de pêssego.
Juntos, iríamos passar tinta, comemorar
E colorir todos os sonhos do mundo.

Kátia Canton, ilustrado por André Davino