domingo, 29 de maio de 2016

Vida

O que esperar de ti? 
Sopro, cegueira, lamúrias 
Boca trêmula 
Palavras proferidas ao acaso. 
Chorei meu silêncio 
Minha amargura vem de dentro 
jazia num recanto, bem escondido 
onde um dia te chamei de alma. 
Vida 
Impossibilitada carência 
de amor, de ações corajosas. 
muitos sonhos, poucas esperanças. 
Vida 
quase morte de meia-idade, 
cabelo branco na fronte e rugas tristes pela face. 
Vida 
restos de mim, 
nada mais a dizer. 
Vida 
você já foi. 



ALEXANDRE PONTARA 

Sombras, 2006




DIZIAM QUE...

"Diziam que, entre as nações sobreditas, moravam algumas monstruosas. 
Uma é de anãos, de estatura tão pequena, que parecem afronta dos homens; — chamados Goiasis.
Outra é de casta de gente, que nasce com os pés ás avessas, de maneira que quem houver de seguir seu caminho há de andar ao revés do que vão mostrando as pisadas; chamam-se Matuius. 
Outra é de homens gigantes, de dezesseis palmos de alto, adornados de pedaços de ouro por beiços e narizes, e aos quais todos os outros pagam respeito; têm por nome Curinqueás. 
Finalmente que há outra nação de mulheres, também monstruosas no modo do viver (são as que hoje chamamos Amazonas, e de que tomou o nome o rio) porque são guerreiras, que vivem por si só sem comércio de homens; vivem entre grandes montanhas; são mulheres de valor conhecido... 
Padre Simão de Vasconcelos. 
(Crônica da Companhia de Jesus no Estado do Brasil, 1663, Liv. I, cap. 31.)
Os Monstros 

Não me perdi numa ilusão... Perdi-me 
Na existência, entre os homens. E encontrei-os, 
Vivos, bem vivos! — estes monstros feios, 
Cujo peso afrontoso a terra oprime. 

Mas há monstros no bem, como no crime: 
Outros houve, que em hinos e gorjeios 
Talvez viveram e morreram, cheios 
De extrema formosura e ardor sublime. 

Ah! no dia da cólera tremenda, 
Os monstros bons, agora fugitivos 
Desta míngua de fé que nos infama, 

Ressurgirão no epílogo da lenda: 
Os mortos voltarão varrendo os vivos, 
E os maus se afogarão na própria lama! 

II 
Os Goiasis 

Ainda viveis, espíritos obscenos, 
Como nos dias do Brasil inculto, 
Na inteligência anãos, como no vulto; 
Como no corpo, no moral pequenos. 

Espremeis a impotência do ódio estulto 
Em pérfidos esguichos de venenos.. 
Tendes baixeza em tudo: nem, ao menos, 
Força na inveja e elevação no insulto! 

Répteis humanos, no coleio dobre 
De rastos babujais templos e lares; 
Contra os bons, contra os fortes de alma nobre, 

Línguas e dentes dardejais nos ares: 
Mas só podeis ferir, na raiva pobre, 
Em vez dos corações, os calcanhares. 
III 
Os Matuius 

De pés virados, marcha avessa e rude, 
Dedos atrás, calcâneos para a frente, 
Ainda viveis, mentores sem virtude, 
Que a verdade escondeis à vossa gente! 

Sabeis, — e errais propositadamente, 
Traidores nas lições e na atitude: 
Aos corações o vosso exemplo mente, 
Como no solo o vosso rasto ilude. 

Pobre quem calca o vosso piso errado: 
Em vez da liberdade encontra um muro; 
Pedindo a salvação, cai num pecado; 

E acha em lugar da glória o lodo impuro: 
Para seguir-vos, vai para o passado; 
Por imitar-vos, foge do futuro. 
IV 
Os Curinqueãs 

Ainda viveis! Conheço-vos, felizes 
Morubixabas de ambições astutas, 
Que em desgraçadas e mesquinhas lutas 
Desgovernais misérrimos países! 

Já tendes paços em lugar de grutas... 
Mas, apesar do tempo e dos vernizes, 
— Se os não trazeis por beiços e narizes, 
Os botoques guardais nas almas brutas. 

Pobres de idéias, ávidos de foros, 
Rudes pastores de servil rebanho, 
Espirrais arrogância pelos poros... 

Sois sempre os mesmos Curinqueãs de antanho: 
Vastos e estéreis, ocos e sonoros, 
Unicamente grandes no tamanho! 
As Amazonas 

Nem sempre durareis, eras sombrias 
De miséria moral! A aurora esperas, 
Ó Pátria! e ela virá, com outras eras, 
Outro sol, outra crença em outros dias! 


Davi renascerá contra Golias, 
Alcides contra os pântanos e as feras: 
Os corações serão como crateras, 
E hão de em lavas mudar-se as cinzas frias. 

As nobres ambições, força e bondade, 
Justiça e paz virão sobre estas zonas, 
Da confusa fusão da ardente escória. 

E, na sua divina majestade, 
Virgens, reviverão as Amazonas 
Na cavalgada esplêndida da glória! 
OLAVO BILAC 
In Tarde, 1919




Seguir...

Ah! O destino. Descobri que perdi os girassóis,
procurando nas coisas destruídas em mim,
mas o sol se reergue toda manhã e me convida
a juntar meus pedaços e seguir. 




Frases, reflexões e pensamentos.‏


Feliz tarde de Domingo
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