segunda-feira, 30 de maio de 2016

PARÓDIA

Se eu fora uma onda serena do mar; 

Se eu fora uma rosa de prado relvoso, 
Quisera essa coma, meu anjo, adornar; 
Se eu fora um anjinho de rosto formoso 
Contigo quisera no espaço voar; 

Se eu fora um astro no céu engastado 
Meu brilho, quisera p’ra ti só brilhar; 
Se eu fora um favônio de aromas pejado 
Por sobre teu corpo me iria espraiar; 

Se eu fora das selvas um’ave ligeira 
Meus cantos quisera p’ra ti só trinar; 
Se eu fora um eco de nota fagueira 
Fizera teu canto no céu ressoar; 

Mas eu não sou astro, poeta, ou anjinho, 
Nem eco, favônio, nem onda do mar; 
Nem rosa do prado, ou ave ligeira;


MACHADO DE ASSIS 
(In Marmota Fluminense, 14 ago. 1855) 
In Poesia Completa - Dispersas, 1854-1939 







Nenhum comentário: